“ Será que ainda me resta tempo contigo, ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias, ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer, ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul, ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia, ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer, ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo, este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti, ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda, ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.
Será que a cidade ainda está como dantes ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar, ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão, ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.
Será que sabes que hoje é Domingo, ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz, que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra, que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.(…)”
" Será " - Pedro Abrunhosa
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